terça-feira, 21 de outubro de 2014

Reduzindo o Emprego... E a Taxa de Desemprego!


Guaxinim de volta!

Vou começar com uma afirmação que pode parecer estranha: o emprego no Brasil caiu, e o desemprego também!

Isso quer dizer que o Guaxinim tem andado com o Níquel Náusea? Não... 

Antes de explicar a afirmação, para ser honesto na construção do argumento, vamos a dois gráficos rápidos.

Evolução da Taxa de Desemprego - 2003 a 2008
Prestem atenção como as linhas, apesar de mudarem de patamar, apresentam um comportamento parecido, ano a ano.

Evolução da Taxa de Desemprego - 2009 a 2014


Notem que o a taxa cai no final do ano, depois sobre um pouco nos primeiros meses, para depois voltar a cair. E isso se repete ano a ano, com algumas raras exceções ou pequenas variações na intensidade do movimento.

E porque estou atentando para isso? Porque em dados de emprego, na hora de comparar, é preciso tomar cuidado com essa sazonalidade. Não dá para comparar a taxa de desemprego de novembro de um ano, com a taxa de desemprego de março de um outro ano. Ou se olha a média de períodos iguais em anos diferentes, ou se comparam os mesmos meses em anos diferentes, para eliminar esse efeito.

Agora que isso (espero) está claro, podemos seguir.

Dizer que o emprego diminuiu e a taxa de desemprego caiu, parece uma incoerência. Para entender, é preciso decompor os principais componentes do emprego.
Primeiro, quero mostrar o que vem acontecendo com as pessoas que podem trabalhar. É a tal da PIA, população em idade ativa, ou seja, quantas pessoas numa determinada faixa etária podem realizar algum tipo de atividade econômica (trabalhar!). De novo, um gráfico!

Prontos para trabalhar! (estou usando o mês de agosto como base)
O gráfico é inequívoco, o número de potenciais trabalhadores só aumenta. Em teoria (simplificando um pouco aqui), o PIB brasileiro poderia aumentar, somente porque existirão mais trabalhadores, que irão produzir riquezas. Ou por outro lado, o produto poderá crescer pela maior utilização do fator trabalho, que sobe naturalmente com o crescimento populacional.

Mas então, porque estou falando que o país destruiu empregos e ainda assim fez o desemprego cair? Porque, esse número da PIA é só o número potencial de trabalhadores. O que entra mesmo no número do desemprego, são quantos destes trabalhadores efetivamente participam do mercado de trabalho. E vejam só, uma porção cada vez menor desse bolo que só cresce tem de fato buscado trabalhar. Essa é a PEA, a população economicamente ativa.

Olhem como essa taxa de participação caiu de repente.

Em 2014 a galera desencanou de trabalhar? Foi a Copa?


Bom, aqui mais uma vez estou, para manter o critério correto, usando os mesmos períodos (janeiro a agosto) para chegar na média da taxa, sem truques. O que posso dizer? Tem menos pessoas daquele bolo que só cresce, participando do mercado de trabalho. Ainda, considerando o desvio padrão do período 2003 a 2013, posso dizer com 98,8% de confiança que a média de 2014 representa uma realidade diferente dos 10 anos anteriores. Ou por outro lado, o que aconteceu em 2014 não foi só uma "flutuação normal", foi um lance bem diferente dos outros anos e que indica com razoável certeza uma mudança na média mesmo. 

Para economizar gráfico, digo o seguinte. Participavam do mercado de trabalho em agosto de 2013 um total de 24,521 milhões de pessoas. Em agosto de 2014, eram 24,114 milhões. Ou seja, a base sobra a qual a taxa de desemprego é calculada foi reduzida em 407 mil pessoas.

Agora o pulo do gato, e com gráfico. Vejam o que aconteceu com a quantidade de pessoas de fato empregadas, em agosto de 2013 e agosto 2014.

Opa, espera aí...

Então, em agosto 2014 eram 23,141 milhões de pessoas empregadas, e há um ano atrás eram 23,221. ou seja, foram mandados para a rua, 79 mil pessoas. Portanto, o emprego diminuiu, logo, foram destruídos postos de trabalho. 
Acontece que se o emprego diminui em 79 mil, e a população economicamente ativa caiu 161 mil (agosto 2013 contra agosto 2014), o resultado é que se consegue por um simples efeito matemático a redução da taxa de desemprego! 

E assim, está provado que o emprego no Brasil caiu, e o desemprego também! 

Vejam que curioso, são duas notícias essencialmente ruins
A taxa de participação cair mostra que menos trabalhadores podem ser empregados, ou seja, que o fator trabalho não é mais tão disponível e que o bônus de aumentar a produção simplesmente porque a quantidade de trabalhadores aumenta por crescimento populacional não existe mais.
A quantidade de empregos disponíveis diminuiu também, e creio que não preciso explicar que isso não é bom.

Mas, junte-se duas notícias ruins, e você pode dar uma notícia boa! Afinal, o desemprego era de 5,3% em agosto de 2013, e em agosto de 2014 conseguimos uma taxa de desemprego de apenas... 5,0%!! A menor de todos os tempos para agosto!
E como a taxa de participação caiu em 2014, isso é verdade para as quedas do ano todo...

Os objetivos desse post são vários. 
Primeiro, convém analisar os números antes de sair papagaiando a versão oficial. 
Segundo, essa questão do emprego é bem mais complexa do que parece e é fácil usar os números a favor ou contra dependendo de como você usa os dados e os períodos. O guaxinim é honesto e mostra o que ele fez para provar que não tem picaretagem aqui, ou pelo menos para deixar o espaço para a dúvida e questionamento...
Terceiro, há por aí uma falsa afirmação que medidas para o controle da inflação geraria desemprego alto. Bom, na prática já estão sendo destruídos empregos. O fato da inflação estar subindo o emprego caindo, apesar da taxa artificialmente também estar caindo prova que isso é mistificação.

E qual o efeito disto? O "bom" número do emprego gera um diagnóstico errado, o que impede uma ação adequada, tanto para recuperar o crescimento da população economicamente ativa, quanto para evitar a destruição de empregos que vem ocorrendo (reforçando: as pessoas estão sendo mandadas embora! apesar da propaganda oficial dizer o contrário). O impacto disso na produtividade e crescimento potencial do país é imenso, e negativo.

Isso significa que o Guaxinim é um gênio? Longe disso, muita gente já escreveu sobre isso. E mesmo quem comemora a taxa de desemprego baixa tem condições de saber disso, mas optam ignorar. O ponto é que não é dada ênfase ou os "analistas" se esquivam de um debate mais profundo. Isso não dá manchete em jornal, nem ganha votos. É chato, são muitos gráficos.

Para finalizar, uma frase do Upton Sinclair: "é difícil conseguir que um homem perceba alguma coisa, quando sua remuneração depende de não percebê-lo". Eu adicionaria aí a ideologia e a manchete no junto com a remuneração (as vezes essas coisas se misturam...).

Abraço!

Obs.: Dados do IBGE.






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