segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Explicação Rápida (quase)


Guaxinim de volta pra uma postagem relâmpago.

Vamos lá.


Crescimento do PIB de 2009 a 2014 (para 2014, estou usando projeções feitas em cima dos números já realizados até Julho).



Então vamos lá, depois da crise de 2008, o PIB cresceu ano a ano a partir de 2009, mas vem perdendo força. Mas cabe entender da onde veio este crescimento. Num primeiro momento a indústria deu uma força, devidos a incentivos dados pelo governo (desonerações pontuais) e a capacidade instalada. A agricultura ajudou, principalmente devido a alta nos preços das commodities agrícolas, que o Brasil produz em quantidade.

Agora vejam este gráfico.


E porque foi "fácil" sair de uma contração de -0,3% do PIB para 7,5%? Porque havia capacidade ociosa criada durante a crise. Então se aumentava a produção e a produtividade simplesmente "ligando as máquinas". Mas não vou botar tudo na conta de um só fator de produção, basta ver o gráfico abaixo.



É menos confuso do que  parece. As barras são o crédito concedido como percentual do PIB. Ou seja, se a barra cresceu de 43,85% em 2009 para estimados 58% do PIB em 2014, quer dizer que o crédito aumentou mais que o PIB. Logo, a produção aumentou, mas os recursos disponíveis para consumo e investimento também aumentaram, e nesse caso, meio que na base da porrada dos bancos públicos, o que é questionável mas não é o ponto deste post.
Mas não fica por aí. Vejam os números do desemprego. Em 2009, assim como era só botar "pau na máquina" era fácil adicionar trabalhadores porque o desemprego era alto. Aumenta-se 1% a quantidade de trabalhadores e se consegue aumentar pouco menos que isso a produção. Isso é verdade com o desemprego em 8,1%, mas com estimados 5%, essa "folga" não existe mais.
E qual o resultado disso? Menos oferta, mais demanda, mais inflação. A projeção é 6,5%, e vou usar esse número para manter o critério, mas deve ultrapassar esse número. E o fato é que o governo Dilma não tem atuado para resolver este problema, pelo menos não de forma séria.

Mas não vou parar por aqui. Isso tudo gerou mais algumas duas distorções graves. A primeira delas é a abaixo:


Se o PIB não cresce porque o modelo crédito-consumo-ocupação de capacidade falha, e os preços das commodities cai, o governo arrecada menos. E o governo de modo geral já investe pouco. Este especialmente não é um grande investidor, prefere a despesa corrente. Uma vez que não há investimento, não há crescimento de produtividade.
Pior, há a política de tentar viabilizar o investimento usando o BNDES. Baixaram o juro na marra (o a taxa selic, o "target selic rate" do gráfico), o que ajudou a inflação subir. Mas há a tal TJLP, a taxa de juros de longo prazo. É a taxa que referência os empréstimos do BNDES (grosso modo). A Selic referencia o que o governo PAGA de juros da dívida dele, a TJLP referencia o que ele RECEBE. Se uma é 11% ao ano e outra 5%, logo isso tem um custo. É só jogar essa diferença sobre os bilhões transferidos para o BNDES. Mas esse custo se traduziu em maior investimento? Não, e a razão é que só o subsidio não é suficiente se o governo não coloca regras claras e para piorar ainda assedia setores com políticas populistas e equivocadas.
O resultado? Caminhamos para ter uma das taxas mais baixas de investimento como proporção do PIB dos últimos anos. E isso impede o crescimento da produtividade, que segura o PIB, que impede o crescimento não inflacionário dos salários (tudo está relacionado).

Seria bom se fosse só isso. Vejam este gráfico.




Bom, se o país não produz internamente, vai buscar lá fora. O déficit em transações correntes no período explodiu. Isso devido a conta de serviços e conta capital.
Outro dado importante, o investimento direto estrangeiro, como não ocorria há muito tempo, já não fecha a conta. Ficamos a mercê do investimento em renda fixa (que deve puxar o juro pra cima) e em ações (os especulativos, segundo o ex-ministro em exercício Mantega).
E olhem a balança comercial. Se os preços altos das commodities ajudou, hoje o Brasil precisa mandar mais navios de soja para receber o mesmo tanto de navios de TVs do exterior (a isso se chama "deterioração de termos de troca"). As exportações crescem menos que as importações, porque o aumento do consumo aqui se dá também pelo aumento do consumo de itens importados.

Bom, e pra onde vai a coisa? Aí piora de novo.


Bom, olhando os números fiscais, dá para ver que a dívida líquida está "estável". Mas aí já é ser bonzinho. Esses números estão maquiados com a tal "contabilidade criativa". Esse link explica melhor que esse número de superávit primário de 1,8% é na verdade, um déficit. Mas o déficit nominal, ou seja, o que sobra depois dos pagamentos de juros, continua alto.
Se você somar esse valor, ao que precisa ser refinanciado da dívida na quele ano, olhe só em que companhia o Brasil está (os números não são atualizados, mas não mudam a direção tão rapidamente).


O Brasil tem a dívida com o menor prazo médio, o maior custo, e precisa financiar pouco menos do que Espanha, Grécia e Portugal e mais do que a Irlanda, num único ano.


Em resumo, a política econômica atual pode se valer de um modelo que permitia o crescimento dos salários (incluindo o mínimo) porque era fácil ganhar produção e produtividade naquela conjuntura inicial. Mas a realidade mudou.
Se o governo continuar gastando mal, e não limitar o gasto dele de alguma forma, até ajustando a fórmula de reajuste do mínimo, essas distorções (criadas pela própria gestão econômica) irão cobrar seu preço de uma forma mais perversa, via desemprego e recessão mais acentuada (que será devidamente creditada na conta da "crise internacional" ao invés da própria incompetência).
É errado dizer que o mínimo precisa ser repensado? Não! Eu diria que precisaria ser limitado ao crescimento do PIB ou da produtividade, mas não há muito consenso sobre isso. Mas dizer que é preciso PENSAR sobre isso não corresponde a querer "arrochar" o salário mínimo ou tirar comida do prato das pessoas.Ora, se a produtividade não cresce porque o modelo esgotou, o salário deve crescer independente disso? Entendo que não.
Seria melhor trabalhar para aumentar a produtividade, fazendo o governo gastar menos numa rubrica e aumentar o investimento, que possa permitir aumentos reais de salário sustentáveis mais a frente. Subir o salário acima da produtividade tem um efeito: mais inflação. E mais inflação é maléfico justamente para quem ganha menos, ou seja, os "beneficiados" pelo aumento do salário mínimo.
Medidas para consertar isso podem ter um efeito negativo? Sim, mas seriam medidas que abririam a possibilidade para uma recuperação e crescimento lá na frente, o que é melhor do que de insistir num modelo esgotado.
O problema é que o cálculo político valoriza o ganho de curto prazo. Parece que as pessoas esquecem que o Brasil vai continuar existindo depois que elas morrerem. Entre uma decisão que seja boa para o país e outra boa paras as pessoas no próximo ano, um governante sério deve optar pela primeira, para que as próximas gerações se beneficiem e que o povo possa progredir historicamente, ao invés de se agarrar ao passado.

Abraço do Guaxinim-Fênix!

Obs.: Dados do IBGE, CNI, FMI e Banco Central.







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